A semana santa está se aproximando e então a
cristandade terá uma nova oportunidade de relembrar a paixão de Cristo e
celebrar sua ressurreição.
Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro
Deus, morreu em uma cruz para expiação de nossos pecados. Sendo Deus e homem,
reconciliou Deus com o homem. Jesus Cristo será sempre a nossa conexão com
Deus, pois ele é um de nós e também é Deus.
Mas por quem Cristo morreu? É uma pergunta, a
meu ver, muito fácil de ser respondida: Por toda a humanidade! "É por meio
do próprio Jesus Cristo que os nossos pecados são perdoados. E não somente
os nossos, mas também os pecados do mundo inteiro" (S. João). Entretanto, ainda aqui encontramos opiniões divergentes. Alguns têm uma visão
estranha sobre a predestinação e consideram que a morte vicária de Cristo foi
para salvar somente alguns predestinados à salvação. Outros acreditam que
Cristo morreu por todos e que temos alguma liberdade para escolher, que é o
livre-arbítrio.
"Acaso, tenho eu prazer na morte do
perverso? - diz o Senhor Deus. Não desejo eu, antes, que ele se converta dos
seus caminhos e viva?" (Ezequiel 18:23).
Deus não quer a morte de ninguém. É desejo
dele que todos sejam salvos. Não posso afirmar, com base bíblica, que Deus
morreu para salvar somente alguns.
São Pedro ensina: "Não retarda o Senhor
a sua promessa, como alguns a julgam demorada. Pelo contrário, ele é longânimo
para convosco, não querendo que NENHUM pereça, senão que TODOS cheguem ao
arrependimento" (2 Pedro 3:9).
Estas palavras não se referem a quem já está
salvo, porque quem já crê está perdoado e não irá perecer. São Pedro trata do
fim do mundo e fala sobre a paciência com que Deus lida com o pecado humano.
Ele deseja que todos sejam salvos, não excetuando ninguém. Ele quer que todos
cheguem ao arrependimento. Por isso mesmo, espera.
A paciência de Deus é tanta, que nos
impacienta, às vezes. Sobretudo em tempos de grande tribulação, ansiamos
desesperadamente pelo retorno de Cristo e ficamos impacientes com a demora de
Deus em cumprir o que prometeu.
É que Deus é longânimo, ou seja, muito
paciente. E de onde procede tanta paciência? De seu infinito amor.
Olhamos ao
nosso redor e percebemos quanta injustiça vem sendo tolerada por Deus. Ele
trata com amor seus inimigos e aguarda seu arrependimento, quando gostaríamos
que ele nos levasse consigo e a tudo destruísse atrás de nós. Isso porque não
amamos da maneira como ele ama.
Ninguém nunca poderá entender o amor de Deus. Falamos que Deus ama, odeia e arrepende-se. Mas tomemos cuidado com isso! Deus é amor por essência e é imutável. Ele
não gosta para depois desgostar. Não há mudança ou variação em Deus. É impossível
para Deus deixar de amar, já que ele é amor. Ele não contém amor, de maneira
que possa dá-lo em maior ou menor quantidade ou retê-lo. Ele é amor por
natureza! Ou Deus nunca amou ou ele amará sempre, porque é imutável.
Entretanto, Deus é amor; não é ódio, nem indiferença. "Aquele que não ama
não conhece a Deus, pois Deus É amor" (São João). Deus não ama porque
quer, mas porque é.
Também não é correto afirmar que Deus ama
mais. Ele ama de maneira perfeita. É possível acrescentar algo àquilo que é
perfeito? Acaso o acréscimo não tornará a perfeição imperfeita? E caso seja
possível acrescentar algo àquilo que é perfeito, não seria uma mudança?
Portanto, cuidado ao afirmar que Deus ama e
deixa de amar. Também tome cuidado em afirmar que Deus ama de maneira especial.
Ele ama e ponto final!
Eu poderia especular se Deus ama quem está no
inferno, mas não acho prudente. É ir longe demais!
Fato é que Deus é amor imutável e, por isso
mesmo, incondicional. Pode irar-se, mas continua amando. Ele é justiça, mas é
amor. Justiça imutável e amor imutável. Por isso mesmo, Ezequiel diz que Deus
não tem prazer na morte do ímpio. Ele dá ao ímpio aquilo que ele merece, mas
não o faz de bom grado, porque ama.
Dizer que Deus se entristece, arrepende-se e
odeia são formas humanas de se expressar. Na verdade, Deus não muda e é amor.
Aqui a verdade de Deus se esbarra em nossa muito limitada capacidade de
compreensão.
Uma vez posto que Deus ama a todos e deseja a
salvação de todos, não tendo prazer na morte de ninguém, antes desejando ou
ansiando ardentemente que todos sejam salvos, vejamos a maneira como Deus
executa seu plano de salvação no tempo.
Deus chama, através da Pregação do Evangelho.
Deus concede fé no Evangelho. Portanto, Deus se doa através da Pregação e
através da fé.
A fé não é fruto da razão humana. Muito pelo
contrário, razão e fé são opostas. A razão analisa o que os sentidos captam.
Ela vê semelhanças, agrupa, separa, organiza, levanta hipóteses (Gênesis 2:19).
A fé, por sua vez, é plantada por Deus na escuridão do espírito. Ali não há visão, nem cheiro,
nem tato, nem paladar. Ali tudo é invisível e misterioso.
Pois é na escuridão do espírito humano que
Deus põe a fé. Logo, a fé é dom ou presente de Deus. Nossa natureza imunda não
pode gerar a fé verdadeira (Efésios 2:8). Ninguém pode colaborar com Deus para
ter fé. Ninguém pode se predispor a isso, através da virtude ou boas obras. Daí
dizermos com tanta convicção que fomos escolhidos por Deus. Não foi nosso
intelecto que o escolheu. Ele nos escolheu, quando pôs a fé em nosso espírito.
Jesus disse: "Jerusalém, Jerusalém, que
matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! QUANTAS VEZES QUIS
EU reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo
das asas, e vós NÃO O QUISESTES"(S. Mateus 23:37).
Veja que Deus quer, mas nós não queremos.
É então que percebemos o quão servil é nosso
"livre-arbítrio". Não queremos Deus tal como ele é. Embora haja no
espírito humano uma busca incessante de Deus, não o aceitamos da maneira como
ele é, a não ser pela fé.Isso porque a razão haverá de prevalecer, enquanto o
vazio da alma não for preenchido pela fé.Como nossa razão haveria de aceitar um
Deus uno e trino, um Deus que se encarnou e morreu devido ao nosso pecado? Nossa
razão poderá aceitá-lo como glorioso criador e mantenedor de todas as coisas,
mas não como salvador.
Portanto, não somos livres para querer a
salvação gratuita de Deus. Nosso pecado nos condiciona a não querer.
Mas o que me encanta muitíssimo é que Deus
quer. Não só quer, como quer
muito! "Quantas vezes eu quis". Quando Jesus pregava o Evangelho ao povo, ele não estava iludindo ninguém com uma salvação
que não queria dar, senão a alguns predestinados. Ele quis e ainda quer salvar
a todos, indistintamente, abundantemente e profundamente.
Entretanto, se a fé, que vem de Deus, não nos
socorrer, inevitavelmente iremos recusar.
Quando penso que Deus predestinou alguns para
a salvação, tendo rejeitado os demais, caio na terrível contradição de colocar
Deus como alguém que oferece sem intenção sincera de conceder. Pois quantos
são evangelizados no mundo inteiro, todos os dias? Quantos ouvem falar do amor
de Deus? Porém pouquíssimos creem e são salvos. Não posso concluir que Deus
iludiu tanta gente com um presente que não deseja dar.
"Vinde a mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei", diz Jesus a todos. Porém,
ele só dará descanso perene àqueles que predestinou. Se outro, que não foi
predestinado, chegar cansado e sobrecarregado, atraído por esse consolo, não
terá o que quer plenamente. Talvez goze algum descanso por algum tempo, mas por
fim cairá, pois nunca foi predestinado à salvação. Ouvirá a Palavra, será
confortado por ela, receberá os sacramentos, mas por nunca ter sido escolhido,
inevitavelmente irá cair em pecado e, por isso, há de perecer. Que é tudo isso
senão iludir?
Fico pensando na intenção do semeador, quando
deitou sementes à beira da estrada, sobre terra pedregosa e sobre espinhos
(S. Lucas 8:4-15). Ora, quem semeia é Deus, através de seus cristãos.
A semente é a Palavra de Deus e a terra é o coração humano. Deus semeia sua Palavra sobre terra ruim porque ama e quer salvar? Ou semeia simplesmente para
aumentar a culpa?
Peço que sua resposta se baseie naquilo que
você conhece sobre Deus, que É amor.
Sabemos que a terra boa foi preparada por
Deus para receber a semente. Não fosse esse preparo, nenhuma terra seria boa.
De fato, Deus prepara o coração humano através da regeneração e fé. Então se a
fé é dom de Deus, por que Deus, desejando tanto a salvação de todos, não
concede a fé a todos? A razão humana exige uma resposta para isso.
Ouso ter uma opinião a respeito. Deus
promete: "Pedi, e dar-se-vos-á. Buscai, e achareis. Batei, e
abrir-se-vos-á".
Levo muito a sério toda promessa que Deus
faz. Para mim pedir a Deus e receber é mais exato que a matemática. É mais
fácil 2 mais 2 serem 3 ou 5 do que alguém buscar com sinceridade a Deus e não
achá-lo.
A busca de Deus é incessante. Embora muitos,
mas muitos mesmo tenham desistido dessa busca e agora vivem indiferentes em
relação a Deus, há outro tanto que persevera nessa busca.
"Buscar-me-eis e me achareis, quando me
buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei
mudar a vossa sorte"(Jeremias 29:13-14a).
A fé vem de Deus, mas a busca é própria da
natureza humana, pois fomos feitos à imagem de Deus. Essa imagem é a memória de
Deus que nossa alma conserva. Daí essa inquietação interior, que nos faz buscar
a Deus. Podemos inventá-lo, ser ludibriados ou desistir, mas quem busca a Deus
de maneira sincera haverá de encontrá-lo. E como? Através da fé.
A fé não é um presente que Deus não queira
dar. Ele a quer dar sempre. E embora seja livre para dá-la a quem não a busca,
atrevo-me a dizer que ele não é livre para deixar de dá-la a quem a busca de
todo o coração, devido à promessa que fez e por ser imutável.
A busca é algo interessante. Muitos que estão
na Igreja nunca buscaram a Deus, enquanto que muitos que estão atolados no
pecado estão em busca incessante de Deus. Deus não haverá de desprezar quem o
busca com tanta sinceridade e insistência!
A própria experiência nos
ensina. Excetuando os filhos dos crentes, que recebem a regeneração
através do Batismo, desconheço alguém que tenha recebido a fé verdadeira sem a
ter buscado. Que caminho cada um de nós percorreu até crer?
Pode ser que alguém encontre o que nunca
buscou, mas isso deve ser fato raro. Cada cristão tem seu itinerário.
Portanto, a oração que Deus mais atende,
todos os dias, é aquela que vem da escuridão da alma humana, que pergunta
aflita: Cadê você? É o gemido de quem anda pelo mundo buscando quem o criou e
desejando reconciliação com ele.
Se você, que me lê, é descrente,
provavelmente é descrente que está em busca. Caso contrário, não perderia seu
tempo com esta leitura. Eu lhe aconselho a continuar buscando essa fé. Não
desista! Se continuar batendo, a porta haverá de se abrir.
Foi assim com Santo Agostinho de Hipona. Que
caminho ele percorreu do maniqueísmo ao cristianismo? Ele passou por várias
crises até abandonar o maniqueísmo de vez. Percebeu sua incoerência.
Assustou-se com o Antigo Testamento. Percorreu Platão. Ouviu vários sermões de
Santo Ambrósio. Até que, subitamente, recebeu a fé verdadeira, ao ler a carta
de S. Paulo aos Romanos.
Livre-arbítrio não é uma palavra que consta
das Sagradas Escrituras. Duvidar da capacidade do "livre-arbítrio" é
muito fácil, pois esse termo e a ideia que contém vieram de pensadores da
antiguidade, não da Bíblia. No entanto, predestinação e eleição
frequentemente aparecem nas Escrituras, tanto do Antigo, quanto do Novo Testamento. Mas como devemos entender a predestinação?
Deus predestinou a Igreja Cristã para ser
salva, da mesma maneira como predestinou Israel. Na verdade, Israel corporal
prefigurou Israel espiritual, que é a Santa Igreja Católica ou a
cristandade.
"Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus"(S.
Pedro).
Portanto, sou eleito porque faço parte de um
povo eleito. Poderia estar por aí sem Deus, buscando-o ou não, mas Deus me
alcançou, enxertou-me na oliveira e hoje me faz parte dela.
A Igreja não é eleita porque é constituída de
eleitos. Nós somos eleitos porque tomamos parte na Santa Igreja Católica, que
Cristo elegeu para ser sua esposa e por ela morreu, derramando seu precioso
sangue. O que está além disso se chama Deus Abscôndito e não deve nos interessar.
"Ó profundidade da riqueza, tanto da
sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e
quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou
quem foi seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser
restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A
ele, pois, a glória eternamente. Amém" (S. Paulo).
Autoria: Carlos
Alberto Leão.
Imagem extraída da
internet.
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