sábado, 19 de junho de 2021

LOUVOR À SANTA LUZIA

Santa Luzia, 

teu firme passo

lesto movia-se 

ao régio paço.

Tarde tão fria

medo inspirava.

Santa Luzia!

Santa Luzia!

 

 


 

 

 Foste inquirida,

mas não negaste

a fé querida, 

que tanto amaste.

Quem, lisonjeiro,

te prometia

bens passageiros,

teu fim urdia.  

 

 

Tão resoluta,

tu recusaste

obra poluta

que te afastasse

do Deus eterno,

que merecia

amor sincero,

Santa Luzia! 

 

 

Virgem soldada,

dor enfrentaste.

Supliciada, 

não te calaste.

Teu corpo frágil

não demovia

a quem Pascásio

obedecia.

 

 

Teus pés pesados,

quais um penedo,

a mil malvados

causaram medo.

Pois que firmeza

tal sugeria!

Firme certeza,

Santa Luzia!

 

 

Flor delicada,

em pez fervida.

Com o fio da espada,

foste colhida.

Benta garganta,

que ainda anuncia

Palavra Santa,

doce Luzia!

 

 

 Essa garganta, 

que trespassada,

ao mundo espanta,

pois proclamava

o fim das trevas

da idolatria.

Santa Luzia!

Santa Luzia!

 

 

O Céu descortinou.

Teu casamento

um coro anunciou,

findo o tormento.

Ao Corpo e Sangue

de Cristo unias

teu corpo exangue,

Santa Luzia! 

 

 

Autoria: Carlos Alberto Leão

Poema baseado na Legenda Áurea (Jacopo de Varazze)

Imagem retirada da internet.

domingo, 13 de setembro de 2020

TEMOR E TREMOR - REFLEXÃO SOBRE A OBRA

 

Um homem comum. Assim Søren Kierkegaard descreve o herói da fé, no início de sua obra Temor e Tremor.

Não é um monge, uma pessoa com atitude religiosa óbvia, um indivíduo excêntrico, mas um homem comum, que realiza as atividades cotidianas. Só que em virtude do absurdo.

Ninguém é capaz de reconhecê-lo a partir de seus atos exteriores. Tudo ele faz em virtude do absurdo, o que é uma atitude interior e silenciosa.


ABRAÃO, O PAI DA FÉ




Por que Abraão merece ser honrado com o nome de pai da fé?

Recebe a ordem de Deus de sacrificar seu único filho, Isaque. Nada comunica à esposa, ao filho e ao escravo.

Percorre um caminho longo até o monte Moriá, onde deverá ser realizada a imolação.

Durante o percurso, não há em seu coração um sentimento de resignação. Ele tem plena convicção que Deus haverá de mudar de ideia. Deus haverá de voltar atrás em seu desígnio.

Mas é possível que Deus, a Suma Perfeição, tendo dito algo, porventura venha a mudar de opinião? É evidente que não. Há, portanto, em Abraão, o sofrimento pungente de desejar o absurdo. Quanto maior Deus lhe é, maior o absurdo se lhe apresenta: Deus mudar de ideia.

Sua luta consigo mesmo é silenciosa. Seu filho e o escravo não percebem a guerra que há em seu interior.

A angústia de Abraão não é motivada por algo infinito ou eterno. Não está resignado a reencontrar seu filho na eternidade. Sua angústia se volta a uma possibilidade finita ou temporal.

Ele não despreza a infinitude. Ele não despreza a eternidade. Tem plena convicção do eterno e busca-o com todo o seu ser. Porém angustia-se perante uma possibilidade finita. Seu olhar sobe ao celestial e retorna ao terreno. Um verdadeiro paradoxo se estabelece ali.

Assim é, para Kierkegaard, a fé. Depois de reconhecer a seriedade do que lhe é requerido. Depois de afastar as cortinas da eternidade, com o intuito de contemplá-la. Depois de amá-la verdadeiramente. Depois de toda essa experiência, ousa desejar o terreno.

A fé está relacionada à nossa experiência com o mundo, não com o celestial. No Céu não haverá fé. Sua serventia é para o nosso sofrido cotidiano em um mundo precário.

A fé é, portanto, um paradoxo. Ela se dirige ao infinito para obter o finito. Ela obtém o finito por via do absurdo. Sempre por via do absurdo! Pois quem prova as delícias celestes não deveria retroceder ao mundano. A consequência lógica seria o desprezo pelo mundo e uma vida contemplativa. Entretanto, o crente dá as costas ao eterno, volta-se ao terreno e engaja-se.

Evidentemente há conflito intenso. O crente não dá as costas ao eterno por desprezo. Na verdade, ele retorna amorosamente ao terreno por amor ao eterno, o que é paradoxal. Quanto mais ama o eterno, mais ardentemente ama o mundano e a ele se dedica. O eterno torna-se, de repente, serviçal da realidade mundana.

Ninguém é capaz de compreendê-lo. A ninguém pode pedir ajuda. Sua caminhada é sempre solitária. Não tem confidente algum.

O pagão ama o terreno por desconhecer o eterno. O religioso despreza o mundano por amar o eterno. São comportamentos consequentes ou plausíveis. Somente o verdadeiro crente, o herói da fé, ama o mundo como consequência de seu amor ao eterno. Esse comportamento é absurdo e paradoxal. Daí o conflito e a necessidade de silêncio.

Se Abraão contasse à sua esposa o que pretendia fazer, com o intuito de ser impedido por ela. Se ele buscasse uma evasiva ética para não cumprir o que lhe era exigido. Se ele se sacrificasse ao invés de sacrificar seu filho. Se assumisse qualquer dessas atitudes, seria justificado perante o mundo. Entretanto, perderia o que de fato importa: a eternidade. Estaria para sempre condenado perante Deus. Perante o SEU Deus!

Se, porém, cala-se e avança, em virtude do absurdo, então é um louco e até um imoral aos olhos do mundo. Nunca será compreendido por ninguém.

Abraão deseja ganhar o Céu sem perder a terra. Ama o Céu, jamais renunciaria a ele. Ama o terreno e quer seu filho de volta. E haverá de consegui-lo, com certeza, porém em virtude do absurdo.

 

“Grande é alcançar o eterno, mas maior ainda é guardar o temporal depois de a ele ter renunciado. (...) Com efeito, o movimento da fé deve constantemente efetuar-se em virtude do absurdo, mas – e aqui a questão é essencial – de maneira a não perder o mundo finito, antes, pelo contrário, a permitir ganhá-lo constantemente. (...) É necessária uma coragem puramente humana para renunciar a toda a temporalidade a fim de ganhar a eternidade; mas pelo menos conquisto-a e não posso, uma vez na eternidade, renunciar a ela sem contradição. Porém, torna-se indispensável a humilde coragem do paradoxo para alcançar, então, toda a temporalidade, em virtude do absurdo, e esta coragem só a dá a fé” (Temor e Tremor).

 

A FÉ E O DILEMA ÉTICO


O cristianismo sempre esteve contaminado por uma percepção errônea de que a fé se resume a uma vida virtuosa. Crente é aquele que põe em prática os lindos mandamentos de Jesus, sendo sempre gentil, cordial, amoroso, honesto, casto, liberal e compassivo. Crente é aquele que se sujeita inteiramente à ética e encontra nela a sua identidade.

Kierkegaard, em outra obra, afirma: “Uma das definições capitais do cristianismo é que o contrário do pecado não é a virtude, mas sim a fé” (O Desespero Humano).

Bem diferente do que muitos cristãos, direta ou  indiretamente, postulam, a fé não tem relação alguma com a ética, está infinitamente acima dela e pode ser considerada, inclusive, antiética.

Depois de apresentar a fé como um paradoxo, que reivindica o terreno por amor ao eterno, por via do absurdo, Kierkegaard dispõe sobre o dilema ético implicado nela.

Abraão está indo sacrificar seu filho. O mandato é de Deus, porém não público, não oficial. Não foi através de um sacerdote ou de um áugure. O mandato foi íntimo e certamente seria interpretado como loucura.

Abraão está indo sacrificar seu filho. Não pela nação, não pelo mundo, mas por si mesmo, por uma questão particular. Aos olhos do mundo, um crime motivado pelo egoísmo.

Conhecemos bem o fim, que salva Abraão e ainda lhe credita altos louvores. Mas se Abraão houvesse consumado o sacrifício, nós nunca o louvaríamos. Seria para sempre lembrado como o assassino movido pela loucura. E se sondássemos a motivação, com certeza seria julgado como egoísta depravado, a ser colocado na mesma condição de Nero. Abraão seria o criminoso que matou o filho por fanatismo.

Abraão está indo sacrificar seu filho. Uma vez consumado o sacrifício, estará perdido para o mundo. Não deverá voltar para casa. Para sempre será um fugitivo.

Abraão, no entanto, ama seu filho, ama sua família e deseja dias venturosos junto dos seus. Por isso, ousa acreditar que o absurdo há de acontecer: Deus irá mudar de ideia.

Não renuncia a Deus e prossegue. Não renuncia ao mundo e deseja ardentemente que o absurdo se concretize.

Longe de um mero cumprimento de regras. Muito longe de atender às expectativas da ética, a fé é um paradoxo ético. Ela está por fazer de Abraão um assassino cruel!

Todas as relações entre indivíduos são mediadas pela ética. Não é possível escapar dela em nenhum de nossos atos exteriores. Mesmo nos atos íntimos ela está presente, pois intimamente nos relacionamos conosco mesmos e com Deus. Portanto, em toda relação entre indivíduos a ética se impõe como determinação intermediária.

Tudo o que é compreensível está dentro dos limites da ética. Mesmo em tempos como o nosso, em que se busca relativizar a ética, ainda assim ela persiste como determinação intermediária.

O pecado é visto, então, como a individuação. É quando alguém se posiciona como eu perante a ética e a desafia. Essa pessoa deverá ser trazida ao arrependimento, que significa a dissolução de seu eu no comum, que é a ética. Deverá renunciar ao eu para tornar-se o geral.

A fé não está dentro dos limites da ética. Através da fé, o homem encontra-se em relação absoluta com o absoluto. Ele está acima da ética. Veja o quanto Kierkegaard coloca a fé longe da perfeição ética como sua verídica forma de expressão! Em momento algum ele denota a influência luterana de forma tão veemente como aqui.

O homem torna-se indivíduo, em relação absoluta com o absoluto.

Em que aspecto ele difere, então, do pecador, que deverá ser reabilitado? Ambos são indivíduos e portam-se contra o geral.

É que o verdadeiro crente ama o geral. Ele experimentou e ama a ética. Sua relação com o absoluto não tira dele o apreço pelo comum. Muito pelo contrário, o crente deseja o comum, deseja o ético, mas sabe que isso não é mais possível fora do paradoxo.

O que dita o comportamento do crente não é a ética, mas o absoluto. Em sua consciência ele sabe o que lhe é mister fazer ou não. Ele ama o geral, porém não age em nome do geral. Age sempre em nome do absoluto.

É do absoluto que o crente recebe a verdadeira ética, seja ela compreendida ou não pelo geral.

Porém, como paradoxalmente ama o terreno, deseja e crê que o absoluto venha a expressar-se no comum.

Ninguém ensina ao verdadeiro crente o que é ético ou não. Ele aprende do próprio Deus, intimamente, em sua consciência. Nada é mais paradoxal e perigoso do que isso! A quantos mal-entendidos o crente não se sujeita? Quantas vezes, por fugir do geral, não é considerado egoísta, desafeiçoado, fanático, mentiroso, omisso, seja lá o que for pior aos olhos do mundo?

É pela relação individual absoluta com o absoluto que muitos se deixam morrer, quando recusam renunciar à fé. E por que são mortos, senão porque transgridem o geral? E que geral transgridem, senão aquele no qual estão inseridos e que amam? Essas pessoas se deixam morrer pelo comum, para que este se transforme, para que este se eleve ao patamar divino. Quando se deixam morrer, não pensam em méritos perante Deus, mas no bem que fazem ao mundo. E aí está, novamente, o paradoxo da fé.


“Se supomos relativamente fácil ser Indivíduo, pode-se estar seguro que não se é cavaleiro da fé: porque os pássaros em liberdade e os gênios vagabundos não são os homens da fé. Pelo contrário, o cavaleiro da fé sabe que é magnífico pertencer ao geral. (...) Sabe quanto é belo ter nascido como Indivíduo que tem no geral a sua pátria, a sua acolhedora casa, sempre pronta a recebê-lo todas as vezes que lá queira viver. Mas sabe, ao mesmo tempo, que acima desse domínio, serpenteia um caminho solitário, estreito e escarpado; sabe quanto é terrível ter nascido isolado, fora do geral, caminhar sem encontrar um único companheiro de viagem. Sabe perfeitamente onde se encontra e como se comporta em relação aos homens. Para eles, é louco e não pode ser compreendido por ninguém. E, no entanto, louco é o menos que se pode dizer” (Temor e Tremor).


KIERKEGAARD E A TEOLOGIA LUTERANA

 

Verificamos que fé, para Kierkegaard, não é uma experiência coletiva. Não se deve buscar a fé numa coletividade, nem mesmo na Igreja. A fé é sempre uma experiência individual. Kierkegaard afirma que a fé é a mais elevada paixão de um homem!

Então devemos nos lembrar da ênfase de Lutero sobre a experiência individual da fé. O homem é convocado pelas Escrituras a estar sozinho perante Deus, através de sua consciência. Nessa relação exclusiva entre homem e Deus, que se dá no palco da consciência, qualquer intervenção do geral, inclusive da autoridade da Igreja, será inútil. 

Em sua consciência, o homem se reconhece pecador e indigno de Deus. Em sua consciência, o homem crê na misericórdia divina e a ela se prende. Em sua consciência, o homem está certo de sua salvação eterna. Muito embora a Igreja ofereça a absolvição de pecados, a Pregação e os sacramentos, é na consciência que o indivíduo comparece solitariamente perante Deus, nele confia e dele obtém a Graça.

A fé não é uma experiência ética, denotada pelo cumprimento de regras. Pelo contrário, a fé está acima da ética, pois coloca o indivíduo em relação absoluta com Deus, por meio da consciência. A ética não entra como determinação intermediária entre o crente e o mundo. O crente sabe o que deve fazer, quando fazer e como fazer. E o sabe da boca de Deus!

Sua postura perante o geral não é, porém, altiva, como seria a de um criminoso. Ele está em relação absoluta com o absoluto para o bem do comum. Isso o coloca em posição sacerdotal perante o mundo.

De acordo com a teologia luterana, o homem interior está acima da Lei e desonerado dela, pois é perfeito. O homem interior está em relação absoluta com o absoluto, sabe exatamente o que fazer, quando fazer e como fazer.

Entretanto, todo crente é um sacerdote. Sua relação absoluta com Deus não o isola do mundo, antes o responsabiliza perante o mundo. 

O sacerdócio não deve ser compreendido apenas em seu significado religioso evidente, mas como serviço ao próximo, motivado pelo amor. Para Lutero há dois tipos de  justificação: a passiva e a ativa. O homem é, primeiro, justificado perante Deus, por meio da fé, em sua consciência (justificação passiva). Depois, ele se dirige ao mundo como verdadeiro sacerdote, com o intuito de servi-lo com boas obras (justificação ativa).

Por fim, em toda a obra de Kierkegaard, a fé é um tema existencial. Torna a vida um verdadeiro dilema. A fé é toda paradoxal. Paradoxo que se torna patente não na relação do homem com Deus, mas na relação consigo mesmo e com o mundo, ou seja, no âmbito existencial.

A experiência com o eterno não faz o crente se afastar do mundo, como fizeram tantos monges. A experiência com o eterno resulta, paradoxalmente, em amor pelo temporal. A experiência da fé não torna o cristão indiferente ao mundo, porém muito mais amoroso e, por conseguinte, muito mais vinculado que antes. Nem mesmo o pagão ama tanto este mundo quanto um verdadeiro cristão. Entretanto, o cristão nada faz fora da fé, ou seja, sem ter Deus diante de si, em sua consciência.

 

Autoria: Carlos Alberto Leão

Imagem extraída da internet.

 

 

 

 

domingo, 21 de junho de 2020

AS OBRAS DO AMOR: AMOR PAGÃO E AMOR CRISTÁO


"A vida oculta do amor está no mais íntimo, insondável, e aí, então, numa conexão insondável com toda a existência. Assim como o lago tranquilo mergulha profundamente no manancial oculto, que nenhum olhar jamais viu, assim também se funda o amor de um homem, ainda mais profundamente, no amor de Deus" (Kierkegaard). 



O objetivo de todo cristão autêntico é ser santo. O cristão é santo e deseja ser completamente santo. Somente o santo se une ao santo. Deus é santidade. Sendo assim, é sumamente impossível unir-se a Deus, senão tornando-se santo.

Devemos, porém, todos os dias, perguntar a nós mesmos: o que é ser santo?

Porventura é ter uma cara amarrada, afastar-se do convívio social e vestir-se de maneira estranha? É defender causas sociais e engajar-se politicamente em defesa de minorias? É manter um otimismo inviolável e um sorriso inquebrantável nos lábios? Enfim, é tornar-se supra-humano ou uma criatura celestial? Não! Ser santo é algo muito mais difícil, laborioso, penoso e sacrificante que erigir um monumento maravilhoso de si mesmo.

Ser santo é amar. Amar de verdade, com toda a seriedade que o espírito exige!

Num contexto de queda, em que estamos perdidos dentro de nós mesmos, sem encontrar saída, parece fácil amar. Amamos a nós mesmos o tempo todo, mesmo quando nos dirigimos ao outro. Toda a motivação para o trabalho e para a superação das vicissitudes da vida reside em nós mesmos. Nascemos, estudamos, trabalhamos, apaixonamo-nos, casamo-nos, temos filhos, construímos uma história e morremos honradamente tão-somente por nossa própria causa. A isso chamamos de amor natural. Entretanto, não é esse amor próprio que nos torna santos.

Hoje iremos falar sobre o amor cristão, aquele que santifica, tão magnificamente exposto por Søren Kierkegaard, em sua obra intitulada As Obras do Amor. Prepara-te para veres descascar e até dissolver-se por completo esta máscara que faz de ti um homem probo e de vida louvável.




O AMOR PAGÃO: O AMOR DA PREDILEÇÃO




O melhor amor mundano é aquele celebrado pelos poetas: o amor romântico e a amizade. Dois tipos de predileção. Amamos quem nos agrada e faz bem.

Se analisado a fundo, esse amor da predileção é uma ocultação, por vezes muito engenhosa, do amor de si mesmo. O amante ama na condição de ser amado. O amigo ama na condição de ser amado. A correspondência é algo fundamental.

Quando o amor não é devidamente correspondido, a pessoa que é objeto do amor é tida por egoísta, insensível e indigna do afeto que lhe foi dedicado. Frequentes vezes esse amor da predileção transmuta em ódio, ao ver que não só foi rejeitado, como também espezinhado.

O amor mundano é marcado pela melancolia do fim. Por mais que a poesia busque imortalizá-lo com versos que arrancam lágrimas, ele cessa com a morte. Também não é estável, pois tanto quem ama quanto quem é amado não são estáveis.

Quer se confesse ou não, o amor mundano é permeado pela desconfiança, visto que há o elemento da mudança.

Quando um mundano desiste desse amor e torna-se cínico, todo o seu intelecto se volta a duvidar da autenticidade do amor que lhe é dedicado. Então procura ilustrar-se por meio da sagacidade, que detecta hipocrisia em toda e qualquer forma de amor. Para ele, quem não tem a mesma argúcia em descobrir a falsidade que há nas relações humanas é um parvo. O homem inteligente, antes de mais nada, não é enganado, pois pressupõe a falsidade do amor.

O amor mundano – ou pagão – é o amor de si mesmo celebrado como virtude. Citando os pais da Igreja, Kierkegaard afirma várias vezes, na obra, que “as virtudes pagãs são vícios brilhantes”.

Se dissecarmos o amor pagão, como fez a espada de Cristo, que veio para separar o “filho do pai, a filha da mãe, a nora da sogra”, nós veremos que nada mais é que o amor de si mesmo refletido no outro.

O indivíduo imediato é aquele que ainda não refletiu sobre si. É aquele que, como tal, está propenso à mudança. O indivíduo imediato é, por exemplo, o bebê. Não sabe de si, não se ama, não ama ninguém, apenas é. 

“O imediato é como o que está fermentando, que justamente por isso é chamado assim: precisamente porque ainda não sofreu nenhuma transformação, e por isso de maneira alguma segregou de si o veneno que, contudo, é justamente o que está ardendo naquilo que está fermentando” (Kierkegaard). 


Em dado momento, o indivíduo toma consciência de si. Essa consciência de si cria o chamado indivíduo refletido. Certo dia Narciso se olhou nas águas límpidas de um regato e se apaixonou por si mesmo. O indivíduo vê a si mesmo no espelho, toma consciência de sua existência, descobre que tem potencialidades, passa a amar-se e torna-se complacente consigo mesmo. O primeiro amor de um indivíduo é o amor de si. Nesse amor ele irá ficar para sempre, salvo alguém o retire daí. Este é o resumo mais completo do chamado pecado original.




Assim ensina São Bernardo de Claraval:  

“Ora, seria natural e justo, antes de tudo, amar o autor da natureza: assim, o primeiro e maior mandamento é este: ‘Amarás ao Senhor teu Deus’. Mas a natureza é muito frágil e muito fraca para seguir tal recomendação. Ela começa por amar a si mesma; é o amor que se chama carnal” (Tratado sobre o Amor de Deus).


No decurso da evolução da mente, o indivíduo, enamorado de si mesmo, percebe que não lhe é suficiente. Então olha para o lado e descobre a existência do outro. Então se aproxima daqueles que poderão lhe trazer algo: companhia, conselhos bons, aconchego, prazer e aperfeiçoamento. Guiado pelo amor de si mesmo, ele decide quem será o objeto de seu amor.

Mas, na verdade, ele não ama o outro. Ele ama a si mesmo no outro. O outro é uma re-duplicação de sua individualidade. Relembrando, o primeiro indivíduo é aquele que simplesmente é, o segundo indivíduo é fruto da reflexão e, portanto, uma duplicação do primeiro. O amado é a re-duplicação. É aquele que reúne o que amo em mim e que não tem aquilo que odeio em mim. É meu terceiro eu.

Entre mim e o outro está a predileção, como determinação intermediária.

Quem, na adolescência, não sofreu a segregação do amor mundano? Porém, todos nós, que fomos segregados, na mesma medida segregamos também.
O amor mundano é essencialmente segregativo. Ele é uma eleição. Quando diz sim a alguém, diz não ao resto. Por isso mesmo não me agrada qualquer explanação sobre a predestinação divina, pois todas estão contaminadas por esse comportamento humano decaído. Não podemos entender a eleição divina porque nossas eleições se baseiam numa entranhada autoestima. Deus não elege assim.

Devemos também pensar: porque o mundo procura tanto a igualdade entre as pessoas? Há algo verdadeiramente virtuoso nisso? Não, infelizmente. Repito: “As virtudes pagãs são vícios brilhantes”. O mundo quer igualar a todos para que todos possam ser amados, enquanto re-duplicação da individualidade. Eu quero que a mulher seja tornada igual a mim para amar-me nela, quero que os gays sejam tornados iguais a mim para amar-me neles, quero que os negros sejam tornados iguais a mim para amar-me neles. Ninguém deve ser diferente, porque o diferente desagrada. Então torno a pessoa igual a mim, ainda que ela não seja, para que só assim possa amar-me nela. Se não for tornada igual a mim, não me será possível amar-me nela.

O problema é que não somos iguais. Se eu estabelecer por condição a igualdade para amar alguém, então amarei a mim mesmo nos outros de forma frágil e desconfiada. Terei de fazer vistas grossas a muita coisa. Terei de me ater à superficialidade. Terei de me abster de encontros profundos. Não poderei encontrar no outro o que há de obscuro em mim.

Tal é o amor mundano. Tão frágil, tão superficial, tão efêmero e tão melancólico! Ainda assim é louvado como bem supremo e enaltecido por meio das mais lindas honrarias. 




O ESCANDALOSO AMOR CRISTÃO




O amor pregado por Jesus cai como uma bomba atômica sobre a cidadela do mundo pagão. Visto pelo mundo, o amor cristão é mais desamor e egoísmo que propriamente amor. Não há possibilidade alguma de conciliação.

Saímos então do mundo anímico (o mundo da racionalidade) e adentramos o austero mundo do espírito, inaugurado pelo cristianismo.

Tudo, absolutamente tudo no mundo do espírito soa escandaloso. Para o mundo pagão anímico, o amor cristão não deve ser honrado, mas repudiado, enxotado, torturado e eliminado da face da terra, como de fato o foi e é. Afinal, é louco, escandaloso e perigoso. Põe em risco as famílias, a política e a sociedade. Nada no mundo pagão permanecerá de pé, caso o conceito de amor cristão se propague, qual incêndio devastador. 
Quem sabe até o incêndio de Roma, atribuído aos cristãos, não tenha sido um acontecimento profético?

"O caminho para o que é essencial no cristianismo passa por dentro do escândalo" (Kierkegaard). 


Somente os cristãos honram seus cristãos, homens santos, que de fato amaram. Talvez aí a grande relevância da honra prestada aos santos. Quando a Igreja presta o devido louvor aos seus santos, está louvando aquilo que lhe é caro: o amor espiritual. Por um mártir da Igreja o mundo jamais erigiria um palito de fósforo, em sua homenagem.

O primeiro aspecto trabalhado por Kierkegaard é que o amor cristão é eterno. Enquanto o amor pagão está sujeito à mudança, à instabilidade e ao fim, o amor cristão é perene. “Tu deves amar” sustenta o amor cristão ao longo do tempo. Quando a paixão e a amizade perderem seu ardor, tu deves amar. Quando o outro te parecer desagradável e inconveniente, tu deves amar. Quando o outro não mais corresponder à tua afeição, tu deves amar. Quando o outro, ingrato, pagar teu amor com duras ofensas, tu deves amar. O amor cristão é eternalizado pelo mandamento. Dentro da severidade do espírito, todo cristão sabe que estará perdido para sempre se permitir que as intempéries da vida terrena apaguem seu amor.

Obviamente, não é possível haver um mandamento se não houver quem ordene. Portanto, o amor espiritual não é um sentimento, não é uma fome, não é uma carência, não é natural. O amor espiritual é uma questão de consciência.

A consciência iguala a todos. Não é comprada, não é aprendida; está integralmente ao dispor do pobre e do rico, do culto e do ignorante, do governante e do súdito. Cada qual sabe o que fazer, qual o seu dever, o caminho que deve trilhar, a missão que deve cumprir.

“Tu deves amar”. O “tu deves” eternaliza o amor. O “amar” respeita ao dever, à consciência, que cada cristão autêntico sabe exatamente o que é. Talvez não leu Ética a Nicômano. Muitas vezes sequer leu a Bíblia. Quiçá é um analfabeto. Entretanto, sabe o que deve ou não fazer, por uma questão de consciência.

Isso é um assombro ao mundo pagão, cujo amor é determinado não pelo dever, mas pelo sentimento. Cuja maneira de amar é subjetiva, tem regras próprias, e que, por não serem recíprocas, determinam angústia, ciúme, incerteza, expectativas e cobranças. Se ponho minhas regras de amor como determinação intermediária entre mim e o outro, é certo que irei pensar que amo demais ou de menos, visto que não há reciprocidade de regras.


“Deus é que depositou o amor no ser humano, e é Deus que deve determinar o que é amor em cada circunstância. (...) Neste ponto, Deus e o mundo estão de acordo: em que o amor é o pleno cumprimento da lei; a diferença está em que o mundo compreende por lei algo que ele mesmo inventa, e aquele que consente nisto e se comporta de acordo é considerado amável” (Kierkegaard).


Um cristão autêntico pouco importa se ama demais ou de menos, ele apenas segue a sua consciência e faz o que deve ser feito. Não faz por um tempo, mas sempre, sob o risco de se perder eternamente, caso venha a desistir.



O amor cristão é abnegado. É um amor marcado pela renúncia.

Disse Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. Não irei amar o outro como re-duplicação de mim mesmo. Devo, antes, negar a mim mesmo, reduzir-me a nada. E a perfeição cristã consiste no aniquilamento do amor de si. O bom remédio, embora mais amargo que qualquer outro, direciona-se à origem do mal.

Enquanto as religiões orientais ensinam a negação de si em direção ao nada, o cristianismo ensina a negação de si em direção a Deus. O único remédio contra o amor próprio, que perverte o homem, não é o nada, mas o amor a Deus. Portanto, amar a si é amar a Deus.

Quanta interioridade isso não requer! Olhar para dentro si, com o firme objetivo de encontrar Deus. Não mais minha predileção, meu conforto, minha paz, meu prazer, minha segurança, pois a tudo isso renuncio para desfrutar Deus. Deus é o objetivo de minha severa autonegação.

Portanto, a primeira renúncia cristã é ao amor próprio, ao amor de si. Ninguém deverá viver para mim, para minha satisfação, para minha alegria, para meu bem-estar, para meu deleite, para me provar dia após dia o quanto sou culto ou o quanto sou generoso. Não! O amor espiritual está esvaziado do “eu”. Amar a si é amar a Deus, pois o si foi sacrificado.

Em seguida, o cristão deve renunciar ao amante e ao amigo. Sua missão é amar ao próximo.

Diferentemente do amor ao amante e ao amigo, de quem recebemos sobeja gratificação, o próximo é aquele que não retribui absolutamente nada. Todo aquele que pode te pagar de alguma maneira o bem que te fez, ele não é teu próximo. Entretanto, o conceito de próximo, num primeiro momento restritivo demais, torna-se depois amplo ao extremo. O próximo é todo homem, indistintamente.

"O próximo é todo e qualquer homem; pois pelas diferenças ele não é o teu próximo, nem mesmo pela igualdade contigo no interior da diferença em relação aos outros homens. Pela igualdade contigo diante de Deus ele é o teu próximo, mas esta igualdade absolutamente todo homem tem, e a tem incondicionalmente" (Kierkegaard). 


O amor espiritual dá sem a pretensão de receber. Ele age guiado somente pela consciência e não aguarda paga de espécie alguma. Pode ser que o próximo que tu beneficiaste venha a louvar-te, presentear-te e favorecer-te. O próximo é, inclusive, teu amante e teu amigo, que tantos favores te prestam todos os dias. Porém, aquele que ama com amor cristão não ama em vista da gratificação, ainda que a gratificação seja provável. O cristão autêntico exercita-se na mais absoluta indiferença quanto ao que poderá reaver quando se doa em amor. Assim, vai transformando em próximo a todos: desde os mais chegados aos desconhecidos, quando intimamente decide agir de boa consciência, sem esperar recompensa alguma.
Se tu esperas de teu próximo alguma coisa, por mínima que seja, então ele já não é teu próximo. Persistes ou decais ao amor pagão.
O abnegado amor cristão vai mais longe ainda. Depois de ter renunciado ao “eu”, ele agora renuncia ao “tu”, enquanto “tu”.

Embora o cristianismo ensine que se deva amar ao próximo, esse próximo não tem um rosto. O próximo é todo mundo; não tem nome nem endereço. O próximo já não é mais, propriamente, o "tu". O "tu" tem um rosto e é objeto de minha predileção.
Assim sendo, o cristão não ama o próximo enquanto próximo. Ele ama a Deus por meio do próximo. Guiado pela consciência, ele faz tudo pelo próximo, sem esperar nada do próximo, porque seu fim não é o próximo, mas Deus. Deus é o fim. E se deseja de Deus a paga, ainda não evoluiu o suficiente. Porque, para os verdadeiros santos, Deus em si mesmo é a recompensa.
Em suma, o cristão exercita-se em renunciar ao "eu" e ao "tu". Só não renuncia a Deus. E, assim, cria-se o ambiente propício ao florescimento do amor espiritual. Um amor que passou pelo crivo da eternidade.

"O homem começa, então, por amar a si mesmo, porque é carne e não pode gostar senão do que se relaciona com ele; depois, quando vê que não pode subsistir por si mesmo, coloca-se a buscar a fé e a amar a Deus como um ser que lhe é necessário. Não é senão em segundo lugar que ama a Deus; e ainda não o ama senão por si, e não por ele. Mas tão logo pressionado por sua própria miséria, começa a servir a Deus e a se aproximar dele, pela meditação e pela leitura, pela prece e pela obediência, chega pouco a pouco e se habitua, sem perceber, a conhecer Deus, e, por consequência, a achá-lo doce e bom: enfim, após ter apreciado o quanto é amável, eleva-se ao terceiro grau; então, não é mais por si, mas é por Deus mesmo que ama a Deus" (São Bernardo de Claraval, Tratado sobre o Amor de Deus).


O desapego que o cristianismo ensina em relação à família, ao matrimônio, às amizades, aos valores do mundo e ao Estado sempre foram chocantes ao mundo. Muitos santos abdicaram da convivência familiar, do matrimônio e de amigos. Recusaram curvar-se perante leis estatais, desprezaram honrarias e tudo o que ao mundo é caro. Por causa desse desapego, que por vezes assume a forma de franco desprezo, os cristãos são incompreendidos e até odiados. 

Aos olhos do mundo, o cristão é tímido, ingênuo, tolo, sem ambição e medíocre, visto que renunciou ao amor de si, que o mundo transmutou em virtude e lhe deu o belo nome de "magnanimidade". Também é frio, egoísta, desafeiçoado e ingrato, porque renunciou à predileção. É traidor de sua família, de sua religião e de sua pátria. É uma ameaça a todos, visto que provê aos inimigos comuns. Ao invés de estar recolhido junto aos seus, protegendo-os, decide deixá-los para arriscar-se nas mãos de quem o odeia, adentrar lugares perigosos e desperdiçar a própria vida por causas vãs. Tudo isso porque renunciou à recompensa que se é obtida dos amantes e dos amigos. Tudo isso porque decidiu amar seu próximo.

Ao cristão, porém, nem o próximo consola, porque não o ama enquanto tal. Ama a Deus por meio dele. Não quer seus abraços e outros gestos de recompensa. Por assim dizer, não quer perverter seu próximo, fazendo dele um amigo ou amante.

O cristão autêntico padece conflitos íntimos e exteriores. Só encontra paz quando, em sua consciência, se vê diante de Deus, o destino último de seu amor.

"Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim" (S. Mateus 10: 37-38).
 

No entanto, é o único que pode amar neste mundo. Ama de verdade porque não está preocupado consigo mesmo, com sua reputação, com elogios e louvores. Recusa qualquer plateia. 
Ama de verdade porque ama o outro da forma como ele é, não segundo suas expectativas. Não teme encontrar no outro o que teme em si. Não deixa de amar, porque está preso ao amor por uma questão de consciência. Não deixa de fazer o bem a quem quer que seja, ainda que ludibriado. O seu amor esteve a serviço do próximo, mas não era o próximo o destino de seu amor, mas Deus. E Deus a ninguém ludibria.

O amor cristão supera o amor próprio, causa de todo o tormento humano. Por isso é livre. Só pode ser livre quem está fora do cárcere de si. 
Que melhoria o cristão autêntico busca ao seu próximo? Para o cristão autêntico, melhorar o próximo significa aproximá-lo de Deus. Nenhum gesto seu busca atender somente a uma necessidade temporal. Há um elemento eterno oculto em todos os seus atos, que é trazer todos ao amor de Deus. Justamente por isso é que ninguém deve ficar de fora. Pode ser que o mais necessitado do amor de Deus é aquele que está longe, bem longe do âmbito da predileção.


"Pois o crístico é: amar a si mesmo de verdade consiste em amar a Deus; amar uma outra pessoa de verdade consiste em, com todo e qualquer sacrifício (e também o de vir a ser odiado), ajudar a outra pessoa a amar a Deus ou ajudá-la em seu amor a Deus" (Kierkegaard).




O AMOR AOS MORTOS COMO EXEMPLO DE AMOR VERDADEIRO




Mais ao fim da obra, Kierkegaard elogia o amor aos mortos.

Um morto não pode jamais retribuir ao amor de ninguém. Nunca te sorrirá, nem falará bem de ti, nem te pagará o afeto com mais afeto. Um morto permanecerá incólume perante tuas lágrimas, perante tua dor, perante tua saudade, perante tua fidelidade, como se tais não existissem. Quem é fiel em amar um morto sabe o real significado de amar o próximo.

Kierkegaard conclui que não há amor maior que permanecer fiel a um defunto. Em seguida, traz esse amor dedicado aos defuntos como exemplo para nossas relações. Em como devemos amar ao próximo como próximo, como aquele que jamais poderá retribuir. Como aquele que se esquecerá de ti logo em seguida. Como aquele que, ingrato, poderá voltar a mão contra ti e ferir-te.

Só então teu amor terá atingido a eternidade, pois tu crerás que Deus recebeu de ti e não se esquecerá jamais.

"Deus é amor, e quando por amor um homem esquece a si próprio, como Deus o esqueceria! Não: enquanto aquele que ama se esquece de si mesmo e pensa em outro, Deus pensa nele. O egoísta se agita, ele grita e faz muito barulho e insiste em seu direito para assegurar-se de não ser esquecido - e contudo é esquecido; mas o que ama e esquece a si próprio é recordado pelo amor. Há alguém que pensa nele, e daí resulta que o amoroso recebe aquilo que ele dá" (Kierkegaard).

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagens extraídas da internet